Mudança: o último (e terrível) mês

O último mês antes da partida oficial costuma ser uma loucura. Por mais organizada que eu tente ser, por mais que eu tente fazer as coisas com antecedência, alguns assuntos só são possíveis de resolver nos últimos dias, e aí eu fico louca tentando finalizar tudo.

Minha data de partida definitiva (em trânsito) de Moscou, era dia 18 de janeiro. Isso significa que em 18 de janeiro eu deveria ter limpado minha sala na embaixada, passado meu trabalho para meu substituto, empacotado mudança, vendido alguns móveis e meu carro e feito as malas que seriam minha casa pelos próximos 3 meses.

E no meio disso tudo ainda tinha Natal, Ano Novo e visitas amadas por muitos dias.

Comecei por anunciar em sites, no dia 24/12, os móveis que eu queria vender e o carro. Dos móveis, consegui vender duas televisões. O carro foi uma novela, que contarei mais tarde.

Enquanto esperava compradores, comecei a riscar itens da lista de compras para a mudança. É incrível como passamos anos morando em um lugar e só aos 45 do segundo tempo pensamos nas coisas que queremos levar de lembrança dali. Comecei a maratona de compras: matrioska de 15 peças, peças de khokhloma, conjuntos de porcelana imperial, porcelanas soviéticas, pôsteres soviéticos… E mais um monte de coisas interessantes que eu queria ter na minha casa. Comprei tudo que queria e mais um pouco. Essa parte foi, obviamente, muito agradável e divertida.

Enquanto comprava coisas, ia me livrando de outras tantas. Mudança é sempre bom para renovar a vida, jogar coisas inúteis fora e limpar o guarda-roupa. Enchi 8 sacolas enormes de sapatos e roupas e doei. Limpei armários e gavetas de papéis inúteis. Enxuguei tudo que podia em casa (e devo ter diminuído umas 5 caixas na mudança).

Dei uma pausa na organização da mudança durante o Natal e o Ano Novo, porque servidora removida também merece descanso.

Durante o feriadão da primeira semana de janeiro, tentei fazer o que era possível: organizei papelada da empresa de mudança (documentos pra aduana, lista de inventário para seguro etc), além de organizar também nossa viagem de trânsito (temos 15 dias de “folga” entre a partida de um posto e a chegada no próximo).

Nos dias 7 e 8, ainda feriado, fiz nossas 4 malas: 1,5 da mamãe, 2,5 minhas. Imaginem ter que fazer 4 malas para passar os próximos 3 meses (isso incluído uma viagem de 15 dias e trabalho no novo posto). Mas, nessa empreitada, descobri que estámos cada vez mais práticas em fazer malas. Mal conseguimos colocar 23 kg em cada uma! No final das contas, tenho uma mala só com roupas e acessórios de trabalho e outras 3 com roupas e acessórios de passeio para mamãe e eu. Tudo certo.

No dia 9 de janeiro começou o empacotamento da minha mudança. Foram 3 dias de exaustão. Eu não empacoto nada, mas preciso ficar coordenando tudo, verificando o que vai, o que não vai, se está tudo empacotado de acordo, se o piano está sendo bem tratado e se minhas bolinhas de Natal de 100 dólares cada estão enroladas em 200 camadas de papel bolha (senhor, cuida das minhas bolinhas). Não me julguem: as bolinhas são fofas (uma é de cosmonauta!).

Enquanto embalava a mudança, estava preocupada com a venda do carro. O feriado, de fato, atrasou muita coisa e poucos interessados apareceram. Dois disseram que comprariam o carro e depois deram para trás.

Passei o fim de semana de 12 e 13 tirando mais coisas do apartamento já vazio e a minha secretária foi limpar tudo para entregar as chaves.

No dia 14, entreguei as chaves do nosso tão amado apartamentinho. A alegria de mudar para um lugar novo é enorme, mas em dias de mudança e entrega de chaves, a gente só sente mesmo tristeza. Dia 14 foi um dia pesado. Muita coisa deu errado, eu passei uns momentos de nervosismo, mas sobrevivi.

Mudança enviada, apartamento entregue, trabalho entregue: faltava vender o carro. Na véspera de viajar de trânsito ainda não tinha vendido o bendito e estava agoniada, pensado que ia precisar deixá-lo com alguém durante meus 15 dias de trânsito. Isso me deixou nervosa porque, primeiramente, não gosto de dar trabalho para as pessoas (ainda mais com problemas pessoais meus) e queria poder viajar sem preocupações.

Mas, por sorte minha e ajuda de uma das nossas secretárias da embaixada e seus conhecidos, vendi o carro, finalmente, em uma fração de 2 horas. Entreguei o carro, fechei as malas, fui para o salão me arrumar e, no dia seguinte, saí de trânsito.

Estava tudo terminado: a parte de Moscou da mudança estava finalizada.

No dia de nossa viagem de trânsito, revisitei minha lista de afazeres e fiquei orgulhosa de mim mesma por ter conseguido organizar tudo sozinha:

  1. Confirmar prazo de partida
  2. Solicitar e emitir passagens aéreas.
  3. Reservar o lugar da Irina na cabine do avião
  4. Solicitar ajuda especial para mamãe nos aeroportos
  5. Fazer orçamentos com as empresas de mudança
  6. Tirar o visto dos EUA
  7. Comprar passagens da viagem de transito(reservar mamãe e Irina também)
  8. Anunciar móveis e carro
  9. Organizar papelada da empresa de mudança
  10. Comprar lembrancinhas da Rússia
  11. Comprar lembrancinhas para os colegas do novo posto
  12. Finalizar trabalho na embaixada e passar instruções para o substituto
  13. Fazer backup do computador do trabalho e limpar a mesa
  14. Reservar carro e hospedagem para a viagem de trânsito
  15. Providenciar documentação de viagem da Irina
  16. Limpar armários e gavetas de casa
  17. Suspender contas e serviços pagos
  18. Fazer as malas com tudo que não vai na mudança
  19. Empacotar mudança
  20. Distribuir coisas que não foram na mudança: comidas, bebidas, plantas
  21. Limpar o apartamento
  22. Entregar chaves do apartamento
  23. Lavar carro para entregar ao comprador
  24. Entregar o carro

Essas mudanças são uma trabalheira, sempre. Algumas coisas dão errado no meio do caminho, eu perco o sono, passo raiva, me preocupo… Mas, no final das contas, dá um orgulho danado saber que consigo resolver tanta coisa importante em tão pouco tempo. Dá um orgulho danado da força que eu tenho e que vejo em todos os meus colegas de ministério. Não é fácil, mas tiramos de letra!

Fica aqui meu agradecimento aos colegas de embaixada que ajudaram no que puderam nesses dias, à mamãe, pela ajuda e paciência e ao André, pela ajuda, paciência, carinho e compreensão. Vocês fizeram tudo mais fácil.

Enfim… Acabou mudança! Agora é só descanso até fevereiro e aí: Los Angeles (e a segunda parte da empreitada)!!!

2 comentários em “Mudança: o último (e terrível) mês

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